Relatos de Guerra – Uma das memórias do Véio da 12

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Há tempos não me sentia feliz de estar em campo como nesse dia, cheguei cedo, reencontrei amigos, café, um bom papo, boas risadas e provocações no pré jogo. No briefing os rangers enalteceram a forma de conduta esperada de todos, para que acima de tudo, a diversão viesse em primeiro lugar. Era um jogo grande para as proporções do local, uma fábrica desativada, com uma boa área de mato no lado, ou seja, tinha área confinada, área aberta e mata. Tinha pra todos os gostos. Ainda por cima era jogo temático. Jogo com missão e imersão são divertidíssimos, se todos vem imbuídos de brincar de soldadinho ou bandidinho e jogar em equipe.

Base COZ Airsoft Team

Ficamos com uma certa vantagem estratégica, pois como o jogo iniciava cedo, estávamos no lado oeste do local, portanto com o sol a nosso favor. Meu pelotão, com pessoas mais experientes (tá… VETERANOS…) ficou encarregado de cuidar de uma área de um galpão onde no centro deste havia uma estação de rádio, que era missão inimiga. Parecia fácil, não fosse a quantidade de aberturas, dando opções de ataque que eles tinham e as poucas áreas de abrigo que teríamos para nos defender. Não comentei antes, mas eu estava somando nas forças rebeldes, e, exceto pela estação rádio, todas as nossas áreas de defesa eram difíceis para o time adversário. Mas como a proporção era quase três deles para um dos nossos, teríamos de caprichar na pontaria. Tivemos a vantagem de já sair posicionados nas nossas áreas de defesa. Ficamos em uns doze ou treze jogadores, naquele que denominamos “Pelotão Geriátrico”, para cuidar do galpão que era a parte mais próxima da base e o restante do time foi dividido em mais três áreas sensíveis. Caso essas áreas caíssem em domínio inimigo, os ocupantes voltavam para reforçar outra área. O sistema de salvamento era de três vidas mais uma, onde somente o médico faz o salvamento, então o “menos geriátrico” do grupo ficou de médico.

Essa alameda rendeu combates ferrenhos

Dado o sinal de início do jogo, começamos a ouvir bem ao longe o gritedo tanto do ataque como da defesa. Definimos quem cuidava do que, dividindo a área à nossa frente e ficamos em duplas por quadrante. Não demorou muito para um primeiro grupo chegar, e na mesma rapidez com que chegaram foram abatidos. Aquela adrenalina boa, a tática deu certo. Dito isso, a próxima hora foi de completo marasmo e sem um vento passar no nosso ponto. Alguns mais ávidos por combate disseram: “-Deve estar pesado lá na frente, vamos dar uma olhada!”. E assim ficamos em cinco(!!!!) cuidando da área da estação rádio. Em alguns minutos começamos ver esses voltando para a base(respawn) com seus panos vermelhos na cabeça, deduzimos que o inimigo estaria perto. Mal acabamos de deduzir, avistamos uma porção de soldados tentando invadir nosso ponto pelo noroeste (10-11h do nosso posicionamento.) No desespero (e fora de alcance…) um dos nossos começou a atirar entregando a posição que estava. Chamamos apoio pelo rádio, mas sem resposta. Eu estava mais ao centro-fundo do galpão e sabendo (por ter dado uns tiros dentro do galpão…) a distância efetiva, aguardei o avanço pensando em fazer o melhor possível. Nesse momento notei que o “mé(r)dico” era um dos que tinha avançado e nos deixado pra trás… Que ótimo, estávamos sem cura e uns 200m longe do respawn… Por sorte eu tinha achado um bom local com saída na retaguarda, para uma possível retraída.

Poucos minutos depois, na primeira tentativa de ataque, entraram três oponentes, que foram logo abatidos pelos meus parceiros de trincheira. Fiquei marcando a estação por estar com uma distância efetiva para um bom tiro de média distância (cerca de uns 35-40m). Nisso conseguimos mais três reforços que estavam voltando ao jogo do respawn, cobrindo mais uma área. Pelo rádio ouvimos que o comando confirmava a perda de duas de quatro bases e que era para reforçar as outras. Na ânsia por tiroteio, ninguém veio reforçar a estação rádio naquele momento, já que a segunda base era mais à frente portanto, mais perto do inimigo.

Sala onde estava a Estação Rádio

Já tinha se passado um bom tempo e nossa contagem de tiros estava baixa, pois raramente houve ataque à base. Pelo jeito, o adversário fez a estratégia de atacar em massa as bases. Nisso ouvimos no rádio: “TODOS PARA A ESTAÇÃO RÁDIO! SÓ RESTA A BASE RÁDIO! CORRE!!!”

Nova injeção de adrenalina, coração na garganta, gritos de “AVANÇA! AVANÇA! É PRA ACABAR AGORA!!” vindos do inimigo. Nesse instante, desvio minha atenção da estação rádio e vejo um pequeno grupamento inimigo entrando sem entender direito onde estava a estação rádio, e antes que ele notasse de onde veio, uma BB 0,40 pipocou no seu capacete, levando seus colegas a começar a atirar em todas direções (depois de um engraçado grito de “Morto mineiro”), perdidos encobrindo o som da minha ferrolhada e disparos.

Um… Dois… Três… vários um após outros foram caindo, até que o médico deles chegou… Nisso outro flanco começou a ser atacado. Eliminei o médico deles, e o grupo todo retornou ao respawn deles, mas o restante do time avançava, querendo conquistar a estação rádio para concluir as missões. Chamávamos pelo rádio por reforços, quando um dos rangers passando por nós falou:

”-Agora é com vocês gurizada… o resto já morreu tudo…”

Sem tempo para se lamentar, seguimos resistindo até que em uma proporção muito maior eles entraram no salão com uma supressão de fogo muito grande. Restaram apenas quatro do nosso lado e eles chegaram finalmente à base rádio, conseguindo colocar um escudo para proteger o ataque e instalação da bomba. Num esforço desesperado rastejei até a saída dos fundos e como não tinham nos cercado saí rapidamente tentando um posicionamento no flanco quase de frente para o rádio. Podia ver o engenheiro começando a emendar os fios do dispositivo e os gritos de “ARMA A BOMBA E SAI LOGO!”

Momento que eu flanqueei o inimigo

Nesse momento ferrolhei meu fuzil e quando tomei posição, infelizmente e ruidosamente denunciando minha posição: “- Olha o Véio! O Véio da 12 nas costas!!!” Comecei a ouvir uma suporte cantar, acompanhado de outras AEGs atirando em minha direção, aqueles assobio de bolinha de todas as marcas e gramaturas passando rente a minha cabeça… Respirei fundo, fiz a pontaria e ao colocar o dedo no gatilho, o despertador tocou, acordei todo suado, coração no pescoço…

Ri muito enquanto me vestia, procurando não fazer barulho e não acordar a esposa, peguei as minhas tralhas e fui pro jogo.

Até breve,
Véio da 12.


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2 thoughts on “Relatos de Guerra – Uma das memórias do Véio da 12

  1. Baita história, consegui me transportar para o cenário. Parabéns Véio da 12. Eu gostaria de conhecer este local, deve ser realmente muito bom de jogar ali.

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